quarta-feira, 11 de julho de 2012

Meu Livro Preferido





   Já li muito, muito mesmo. Houve um tempo em que eu classificava o quanto eu lia pelo número de livros que eu lia ao mesmo tempo - no ápice da nóia 10, 12 - e quando achava algo muito bom, parava de ler, guardando eles, os melhores, para o fim. Depois, o critério passou a ser o número de paginas que eu lia por dia: minha meta eram 50 páginas, mas quando o livro é realmente fantástico e não tenho mais nada para enrolar, só largo quando termino, e lá estamos nós, às 5 da manhã, pescoço doendo, mãos formigando... 
   Comecei a ler muito tarde, acho que veio daí essa minha obsessão, vontade de tirar o atraso. E, por Deus, eu tirei. Meu primeiro livro foi Moby Dick, do Herman Melville. Peguei ele lá pelos meus dez anos e depois de uma dezena de tentativas frustradas só acabei cinco anos depois. Tudo culpa do maldito cérebro dda, pois o tratamento não foi o mais correto no inicio,mas Deus, o mundo ficou colorido de uma hora para outra graças a ele, e depois que consegui terminar meu primeiro livro nunca mais parei. Leitura é antes de tudo respiração, sincronia, quase meditação, e através do aumento da concentração nos “pagi-transportamos”. Virou compulsão, mania, ir para o colégio para ler, para a faculdade...para o trabalho.
   Tudo podia ser perfeição no paraíso, mas nunca é: odeio estudar, coloque algum material didático na minha frente que o sono vem, e vem a galope. Admito, não me orgulho disso, mas sim, no começo li Paulo Coelho, na verdade devorei Paulo Coelho, li tudo, afinal não existe muito material para servir de ponto de referência ou comparação quando se é principiante e a gente acha aquilo demais. Com o tempo se vê que a maioria dos livros são cópias de alguma outra estória, lenda ou conto e o cara descobre o pior, que no resumo geral todas elas são iguais.
   Depois de algumas dúzias de livros fica complicado definir qual é o melhor, depois de algumas centenas você começa a tentar achar o melhor pelo autor, pelo conjunto da obra, não mais pelo título. Depois de várias centenas você volta ao inicio de tudo e descobre que sim, é possível achar um único e melhor livro entre todos. O problema é que ele muda de ano pra ano, de humor para humor dependendo muito da fase na qual você está. 
    O mais maluco de tudo é que ler é como uma droga. O autor é um traficante e como faz você experimentar outras drogas (livros) que ele queira que você experimente, muitas vezes diretamente, outras vezes transversalmente: dificilmente eu deixo passar alguma indicação, mesmo as indiretas, de algum bom autor. Isso forma uma corrente mágica, uma linha imaginária de pontos que vão sendo interligados de livro a livro e esta trilha leva até você, até o que você se tornou.
   Assim, descobri que a “gente não escolhe o livro, o livro escolhe a gente” é uma verdade, que apesar de tão subjetiva, nunca foi tão concreta. Linhas do destino são trançadas e sugestões subliminares são transferidas: daqui a pouco se está lendo Mario Puzo, você adora seu protagonista que é aficionado por um livro(Irmãos Karamazov) dentro da estória e, quando você se dá por conta, tem um Dostoievski no seu colo e você não tem a mínima ideia consciente de como ele foi parar ali, puro mistério.
   Em seguida você quer fazer a coisa certa, pois não basta ler alguns clássicos é preciso ler todos. Você odeia, o século é outro, as palavras são outras, seu gênero literário é outro todo esse preconceito dura apenas algumas páginas, porque Montaigne, Thoreau, Dickens, Homero e Shakespeare e uma penca mais simplesmente estão certos, e conseguiram transformar situações em lições, emoções em palavras e o mais poderoso de tudo: palavras de volta em emoções

Nenhum comentário:

Site Meter