quinta-feira, 1 de março de 2012

O mito de Sísifo


Quando não se pode ser mais você mesmo, por motivos externos a sua vontade, como pela dor, como por exemplo aquela, que é primeira coisa que você sente quando acorda, a ultima antes de dormir e em alguns casos você mesmo sonha com ela, como um espeto atravessado em seu quadril, você procura artifícios, distrações mesmo refúgios, mas o “crônica” em seu titulo não é em vão. Me escondo de mim mesmo sempre que posso, nos livros ,sempre que encontro novas paginas e hoje, paginas cada vez mais raras, e mais distantes de mim, ou no primeiro programa pseudocultural que passa na televisão, alguns requisitos me permito, supostamente estar aprendendo alguma coisa, seja como sobreviver na Siberia ou como fazer kibe... crú.

A algum tempo conseguia fugir de minha própria percepção escrevendo, mas no entanto tenho sentado menos e menos para escrever, claro que quem me conhece sabe que me sentar, é uma figura de linguagem, propriamente dito não me sento nunca, ou nunca que posso pois escrevo deitado, na verdade, faço tudo deitado, cortesia dos parafusos que carrego em minha “super” coluna, que por sinal me deu o desprazer de quebrar, sim hoje em dia não tenho mais 6 parafusos na coluna, tenho 5 e ½ porque um maldito esta quebrado.

Eu poderia falar de probabilidades, afinal já fui a Las Vegas jogar poker, fiz daytrade em ações e opções na bolsa, sei do que falo quando digo: quantas são as chances de alguém com 25 anos ter problemas de coluna, quantas são, destes problemas serem tão sérios de se ter que operar, ou quantas são de a maldita operação não dar certo e se ter que viver anos com dores crônicas, e agora o mais recente, o “creme de la creme” ,ter um dos parafusos de titânio quebrado e pinçando os nervos do plexo lombar?

Alguem poderia logo supor que escrevo isso por ter pena de mim mesmo, estar em um momento de fragilidade e eu diria que esta absoluta e incondicionalmente certo, não sei o que fiz ou a quem fiz para ter que viver e suportar ou mesmo merecer tudo isso, ter como companheiro inseparável uma maleta de remédios não era exatamente o que sonhei em minha meninice para meus dias de hoje. Adquirir conhecimentos farmacológicos de nível de pós-graduação tão pouco era uma informação que almejava ter, não vou nem falar sobre anatomia da coluna humana...

Mas hoje tudo mudou, a vaga noção de um problema se desfaz diante de algo concreto e imutável, a porra esta quebrada e não sei como irei enfrentar uma nova operação, não sei se vou conseguir. Os médicos que consultei ate agora são todos unânimes, em tirar todo sistema dinâmico que carrego na coluna com parafusos moveis e colocar pinos tradicionais que transformariam minha coluna que algo fixo, imóvel . Não fosse a duvida que paira sobre se isso realmente funcionaria, vem o temor da lembrança do pós operatório, da dor excruciante dos primeiros dias, da maldita comida do hospital, do entorpecimento da morfina das primeiras semanas, da falhas e brechas da memoria de todo o período e da solidão das horas, dias e semanas que irão virar meses, saber que o corte irá demorar uns 6,7 ou 8 meses parar cicatrizar, se não mais... Dizem que os problemas sérios e como os superamos são divididos em 5 partes: Negação; Raiva; Barganha; Depressão e Aceitação, não sei exatamente onde me encontro, mas troco de lugar com qualquer um que queira, na hora! Só sei que, do meio pro fim, vou pular direto para a aceitação afinal a depressão é estado permanente.

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