quarta-feira, 13 de abril de 2011

Viajo


Às vezes faço isso de carro, muitos quilômetros por semana a trabalho, a lazer, e por mais que eu reclame, no fundo eu adoro. Como é bom estar em movimento, fechado como em uma cápsula , saber que o lapso de tempo em que estamos a caminho de algum lugar é um momento inteiramente dedicado ao destino. Outras vezes faço isso por horas a fio sem sair de casa: milhares de milhas por eras, séculos, batalhas, amores impossíveis e agentes secretos, e mesmo quando falta luz eu saio em peregrinação, tendo já terminado livros à luz de velas. Uma de minhas piores viagens foi cursar a faculdade de direito: inútil como a bela teoria do curso que se contrasta com a pérfida prática. Já viajei usando drogas, sim, e lamento por isso - viajava horrores tentando fugir de quem eu era e nunca chegando a lugar algum. Já houve percursos que fiz até autódromos em todo o sul e sudeste do Brasil, e na pista viajava em círculos, repetindo sempre o mesmo trajeto; lá o destino era vencer o tempo. Já viajei a outra cidade e nunca mais voltei, fui por opção e não voltei até hoje por pura falta dela- não queriam me deixar ir agora não me deixam voltar. Já viajei ao fundo do poço; você toca o fundo quando consegue controlar e evitar racionalmente o que te machuca, mas teus sonhos te traem e se transformam em pesadelos. Sofrer no inconsciente de teu cérebro e não ter fuga ou controle algum, esse é o pior dos destinos. Já viajei achando que podia mudar alguém, uma jornada de repetições e explicações sobre atos e suas repercussões no futuro que me levou ao destino do choque de ver que ninguém deixa de ser o que realmente é. Já viajei a Las Vegas, uma viagem dentro de outra, pois achava que meu pôquer era suficiente para conquistar o mundo, e, para começar, fui logo ao topo. Já viajei sozinho aonde os únicos destinos eram a solidão e o silêncio da minha cabeça. Já viajei longas distâncias unicamente para encontrar amigos, tardes à beira do lago com música eletrônica e muitas, muitas risadas. Já viajei direto até o coração do homem e sua origem: tardes e mais tardes dedicadas ao curso de História, quando você descobre que o aluno deplorável para as leis se torna aquele que é o primeiro a chegar na sala e o último a sair, tentando ainda dar carona para o professor para continuar a argumentação. Já viajei tentando ser o que os outros esperavam de mim, tentando ser o que eu não era, uma jornada de decepções. Já viajei no colégio quando era novinho, achando que a amizade que eu tinha para dar era a mesma que eu iria receber. Já viajei achando que eu era especial, achando que um destino grande e maravilhoso me aguardava, tudo isso para depois descobrir que era apenas um sintoma DDA: se sentir diferente justamente por ser.Já viajei achando que meu pai me odiava, pensando que ele era o meu pior inimigo. Já viajei sem viajar, mantendo paixonites a longas distâncias e tento medo de confrontar a realidade e perder a fuga que um ideal platônico te dá, prorrogando sempre a viagem de encontro. Já viajei de várias formas e maneiras, e sei que a vida é justamente isso: uma longa viagem cheia de paradas, de incursões e excursões, e que não importa a maneira que olhamos, estamos sempre indo para algum lugar, seja de cidade em cidade, de país a país, de planeta a planeta, e que até mesmo nossa galáxia viaja pelo universo e vai em direção a galáxia vizinha, mas, por mais assustador que possa parecer, tudo tem um destino, um objetivo, um propósito, e nosso destino não é chegar, é viajar!Como o objetivo da vida que não é a morte, e sim o trajeto que fazemos durante toda a vida. O valor de uma escalada não esta no pico e sim em chegar ate ele. Estar em movimento é estar vivo.

p.s.: e se puder ir de primeira classe, não hesite.

p.p.s: nunca mais joguei pôquer na vida.

Um comentário:

Unknown disse...

me identifiquei muito..
sei que parecerá repetitivo mas me surpreendo com teus textos...Não pare de escrever,adoro vir aqui e ver que tem um texto novo para que assim eu possa "viajar"e esquecer dos problemas...te adoro Thormann!!!

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